28 de março de 2011

Dia de Sol

     Uma moradora de Memphis me disse que aqui não há primavera, passa-se do inverno diretamente para o verão. Segunda-feira da semana passada foi um dia que poderia servir para comprovar tal hipótese. O sol brilhou forte e a temperatura estava entre os 26 a 30 graus para a minha extrema felicidade visto que já não agüentava mais tanto frio (triste é que esta semana o frio voltou - temperatura entre 6-12 ºC).
    O Dú não tinha cirurgias, eu também estava trocando de tarefas e não havia nada certo pra aquele dia, então, tiramos o dia para passear. Algumas pessoas nos recomendaram o zoológico assim, decidimos conferir a dica.
     E... valeu a pena! O zoológico é lindo e repleto de espécies do mundo todo. Claro que eu sou suspeita para falar de zoológicos porque embora eu esteja migrando para a área da saúde, ainda sou e sempre serei uma zoóloga e apaixonada por bichos em geral. Mas mesmo para alguém que não é da área, o lugar impressiona. Alguns destaques são: as leoas marinhas que são treinadas, o casal de ursos panda, os dragões de Comodo, exemplares de répteis da África, Austrália, América do Sul, casal de ursos polar e etc. 
     Também havia boa quantidade de primatas e felinos. Há uma área escura para animais de hábito noturno ou que usualmente vivem em área de pouca luminosidade como os morcegos, tamanduás, toupeiras, Aadvark e outros.  A ornamentação é bem legal e temática: Tem tema da China, da África, de fazenda e etc.
     Se você for um dia passar por Memphis, I highly recommend















  * Como eu quase sempre lembro de uma música relacionada a tudo que faço, ir ao zoológico me fez lembrar de uma canção que papai e mamãe colocavam pra gente ouvir: O som dos bichosdo grupo MPB4.

20 de março de 2011

Capulana


     
  Recebi um email ontem de uma amiga pedindo para continuar postando sobre Moçambique. Eu disse que continuaria postando e vou, mas primeiro tenho que lutar contra a indisciplina nas postagens e depois tenho que vencer os meus sentimentos de saudade e tristeza (devido à saudade) quando penso em Moçambique. Hoje, dois meses e meio após ter saído de lá, bateu uma saudade imensa. Então, para relembrar bons momentos, resolvi atender ao pedido da Rebeca e vou falar agora sobre a capulana.
     Capulana é um tecido geralmente de algodão de um metro de largura por 1,80 metro de comprimento aproximadamente. É usada comumente em todo o continente africano, embora em cada país tenha um nome diferente. Aqui em Moçambique este pano multi-uso que passo a descrever chama-se capulana.
     O uso mais comum pelas mulheres é como saia, apenas amarrada ou enrolada na cintura, sempre trazendo algo por baixo: saia, short, calça e etc. Várias pessoas também mandam as capulanas para a "modista" ou alfaiate a fim de  costurarem conjuntos, vestidos, saias, blusas e etc. Muito comuns também são os lenços de cabeça feitos de capulana.
     Eu adoro as estampas das capulanas! Há de todos os tipos e pra todos os gostos: muito coloridas, marrons, com desenhos, temáticas (por exemplo com o retrato do papa, bandeira do partido Frelimo e etc), com listras e por aí vai. Os homens também utilizam calças e blusas feitas com capulana.
     Embora bastante utilizadas como vestuário, as capulanas não são usadas somente com este fim. São como Bombril - mil e uma utilidades. Servem pra carregar o bebê, pra fazer compras e depois enrolá-las com a capulana como trouxa, servem como esteira pra deitar no chão, como coberta no tempo de um friozinho, como toalha de mesa, cortina e etc.
     As mulheres em Moçambique são ensinadas desde novas a sempre carregarem uma capulana extra na bolsa (ou pasta como dizem por aqui) para caso de ocorrer algum imprevisto.
     Os custos variam de acordo com o tipo do tecido. Os de algodão puro são os mais caros. De modo geral, uma capulana custa entre 45 a 180 meticais (2,50 a 10 reais) cada. Em uma pesquisa de boca a boca fui informada que a maioria delas é fabricada na Índia. Uma pessoa me disse que antes da guerra havia uma fábrica em Maputo que produzia boas capulanas mas depois da guerra esta fechou e nunca mais reabriu. Fica a dúvida se já há fábricas em Moçambique e se há outros países exportadores de capulana como a Índia. Quem souber pode me informar melhor.
     Eu tenho algumas capulanas. Já fiz saias envelopes, um conjunto de saia e blusa, um conjunto de calça e blusa, utilizo como saída de praia e como capa pra cortar a cabelo do Dú! Eu tentei usar somente amarrada na cintura, mas fica prendendo as minhas pernas na hora de andar e também dá calor usar enrolada por cima de outra saia ou short! Eu usava assim só de vez em quando.
     Enfim, o que eu pude perceber é que a capulana é parte do cotidiano de todo Moçambicano e de muitos milhares de africanos. Por isso: viva as capulanas!

Vários modelos de conjuntos feitos com capulana:









O jeito mais comum de usar: capulana enrolada em volta da cintura com blusa e lenço.



Como turbante

Detalhe da renda

Capulana para carregar bebês


Como trouxa para carregar diversos itens na cabeça:


Como camisa:

Eu com capulana enrolada na cintura ...

... e com conjuntos de saia e blusa e calça e blusa:


17 de março de 2011

Esperança





Os dias em Memphis têm sido bons.
Esta é a nossa segunda semana e estou voluntariando no hospital metodista universitário.
Primeiro, foi o departamento de cuidados extensivos - para pessoas que ficam no hospital por mais tempo. Esta semana estou na emergência.
Meu trabalho é muito simples: pegar isto ou aquilo, orientar o paciente e dar informações, ajudar a alimentar aqueles que não conseguem sozinhos e etc.
Nunca gostei muito de ambiente hospitalar mas a experiência é válida. 

Outro dia estava lendo sobre a importância de doar de si mesmo para as pessoas mais do que doar coisas.  

Ainda sou nova, não saí dos vinte... ainda. Mas penso que se há um alvo que vou perseguir é o de conectar-me mais às pessoas. Investir em relacionamentos mais do que investir em carreira, sucesso, dinheiro. E quando digo relacionamentos não quero dizer que pretendo ter vários amigos e sim que vou cultivar aqueles que tenho e manter-me aberta para os novos.  No caminho vou tentar aprender o máximo possível com cada pessoa que encontro, sejam os encontros breves ou longos. Afinal, a vida é feita da soma dos momentos que vivemos e pequenos instantes podem ter grande impacto sobre nós. Imagino sobre aqueles que tiveram a oportunidade de ter um encontro marcante com Jesus. Como a vida deles foi transformada por pequenos momentos! E por outro lado, os discípulos que estavam sempre com Jesus, devido a rotina do dia a dia, podem ter passado a menosprezar aqueles dias tão especiais.

Se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, e eu creio que somos, então cada um carrega em si uma parte do sagrado. O enigma da vida é saber identificar esta parte em cada indivíduo e focalizar nela. Praticando a misericórdia, o perdão, orando pelos inimigos, sendo vulnerável a dor, doando tempo e recursos.

Há quem disse que alguém só pode encontrar-se a si mesmo no encontro com o outro. Em outras palavras, o próximo é o nosso espelho. Portanto, se perdemos o contato com o próximo deixamos de conhecer o nosso íntimo e vida torna-se vazia.

Vi hoje no noticiário como as pessoas estão respondendo à crise no Japão. Fiquei admirada com a organização: as pessoas mesmo famintas estavam calmamente aguardando na fila pela distribuição dos alimentos, respeitando uns aos outros. Não houve saques às lojas. Nos abrigos, vários desabrigados voluntariaramente estão cozinhando para os outros. 

Fiquei pensando que uma tragédia pode trazer tanto o pior quanto o melhor das pessoas. Mas como traz esperança ver a solidariedade e amor reinando sobre o egoísmo e a catástrofe! A maior parte das  imagens só mostra destruição, perigo de contaminação nuclear, morte. Mas quando os pequenos e grandes gestos de bondade são enfatizados, a esperança pode nascer!

"Melhor é serem dois do que um". Que possamos aprender a viver juntos neste mundo carente de amor!

11 de março de 2011

Retorno


    

    Após meses sem escrever aqui no blog, resolvi escrever algumas palavras hoje. Não que eu tenha ficado sem assunto para escrever. Muito pelo contrário, há tanto passando pela minha vida e pela minha cabeça que você ficaria louco(a) se estivesse dentro dela, como eu mesma às vezes luto para manter a sanidade em meio a um turbilhão de idéias, sentimentos, memórias...
     Parti de Moçambique no dia 08 de Janeiro e desde então, venho viajando por lugares que  nunca imaginei conhecer, encontrei pessoas maravilhosas e diferentes pelo caminho e reencontrei outras que há tempos não via.
     Falta aproximadamente um mês para eu voltar pra casa de novo. E como eu estou ansiosa por voltar pra casa!
     Nunca vou conseguir descrever propriamente como foi viver no continente africano durante três anos. Foi maravilhoso e aterrorizador. Foi quebrantador e excitante. Foi simples e profundo. Uma experiência que verdadeiramente transformou a minha vida.
    O futuro a Deus pertence. Claro que tenho medo do desconhecido. Há tantas opções e na verdade podem haver poucas... De uma coisa tenho certeza: vou lutar dia a dia pra viver uma vida de serviço, de luta pela justiça e pela simplicidade. De encontrar o divino em tudo aquilo que me cerca. Ah, então você é religiosa! Você pode pensar... De fato não. Estou correndo de religiões, de pressupostos, de religiosidade, de rótulos. E estou tentando sinceramente correr de braços abertos ao encontro de Jesus e de seu amor. E estou em busca de amar o próximo por mais louco, doloroso e desafiador que possa ser.
     Não sei o que me espera no futuro mas tenho um alvo e pra ele eu corro com perseverança, sabendo que um tesouro incorruptível espera por mim.